Ollanta Humana, militar reformado, o candidato nacionalista de esquerda identificado pelo próprio eleitorado como ligado a Lula e a Hugo Chavez, tem 42% da preferência do eleitorado, segundo as primeiras pesquisas deste segundo turno da eleição peruana. Logo atrás, com 36%, vem a deputada Keiko Fujimore, conservadora, porém populista, e filha do ex-presidente Alberto Fujimore que está preso por crimes de corrupção e violação grave dos direitos humanos.
Pode-se dizer que a sorte de Humala é estar enfrentando Keiko que lidera os índices de rejeição e é obrigada, diariamente, a jurar que não fechará o Congresso, como fez seu pai, nem dará liberdade a ele e a seus cúmplices. Num de seus discusos mais dramáticos, ela pediu perdão pelos delitos do velho Fujimore.
Não fosse por esta circunstância, se poderia dizer que Humala dificilmente venceria estas eleições marcadas para o dia 5 de junho. Há cinco anos, ele também venceu o primeiro turno, com cerca de 30% dos votos (como agora), mas perdeu na decisão final para o atual presidente Alán Garcia, um populista de centro que tem seu nome invariavelmente ligado a esquemas de corrupção.
Hoje, como há cinco anos, o Mercado, sua mídia e as forças de centro uniram-se contra Humala. Mas há três diferenças importantes: 1- as poucas lideranças expressivas que apóiam Fujimori, o fazem de forma reticente; 2- Humala tem o apoio do ex-presidente Alejandro Toledo, o principal líder do centro e que disputou o primeiro turno, obtendo 18% dos votos; 3- o candidato nacionalista conta também com o apoio de um ícone, o conservador Mario Vargas Llosa (Prêmio Nobel de Literatura) que não esconde sua repulsa por Keiko Fujimore.
Por precaução, Humala procura apagar qualquer vestígio de suas ligações com Chávez e tem declarado diariamente que “as eleições peruanas serão decididas pelo povo peruano, sem interferências externas”.
O ponto forte de Humala são as regiões mais pobres com população predominantemente indígena. Na comparação, não geográfica mas social e eleitoral, estas regiões seriam semelhantes ao nosso Nordeste. Já o ponto fraco do candidato é a capital, Lima, cujo prefeito Luis Castañeda, que também disputou o primeiro turno, acaba de declarar seu apoio a Fujimore.
Com 8,5 milhões de habitantese na Região Metropolitana, a capital peruana, na analogia sócio-econômica e eleitoral, seria a São Paulo deles. Há ali uma crescente classe média (emergente) que vem se beneficiando do últimos dez anos de alto crescimento econômico. Em Lima, Fugimori aparece na pesquisa com 43% dos votos e Humala com 35%.
Um páreo duro e imprevisível, é o que se pode dizer dessas eleições E diga-se, também, que ali está sendo disputado um importante lance geopolítico e diplomático: de um lado o Mecosul, liderado pelo tripé Argentina-Brasil-Venezuela que propõe a construção da unidade e da identidade da América do Sul. De outra parte, temos os Estados Unidos que pelejam para não peder a tradicional hegemonia sobre as três Américas.
E uma curiosidade: na pesquisa que estivemos analisando, 36% dos eleitores dizem acreditar que a campanha de Humala é financida pelo PT brasileiro e 48% creem que a grana vem da Venzuela. Mas, estranhamente, não há a pergunta sobre quem financia a campanha de Fujimori.
Fonte: Ideias
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