Por: Hugo Freitas
A educação em nosso país é algo tão absurdamente vilipendiado que chega a ser cômico certos dados que nos chegam com um "quê" de ironia ou mesmo sarcasmo.
Senão vejamos: segundo levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), os professores de nível médio do Maranhão têm uma das melhores remunerações do Brasil. Por 20 horas trabalhadas, os profissionais da rede estadual de ensino recebem R$ 880,94.
De acordo com os dados, mais de 70% dos docentes do Estado têm nível superior, o que representa uma remuneração total bruta de R$ 1.631,69, já inclusa também na folha da categoria a Gratificação por Atividade do Magistério (GAM) de 130%.
Segundo o Consed, o piso nacional para uma carga de trabalho de 40 horas é de R$ 1.187,08, o que deixa os professores maranhenses numa situação de extrema imponência perante os outros Estados da federação, já que sua renda bruta é para uma carga de 20 horas semanais, das quais 04 horas são para planejamento e 16 horas para sala de aula.
Os docentes também têm acréscimos salariais escalonados na forma de adicional de qualificação, sendo 15% para quem é especialista, 20% para mestres e 25% para doutores.
Na tabela do Consed, em estados cuja jornada de trabalho é de 40 horas (o dobro do Maranhão), são pagos valores como R$ 965,61 (Goiás) e R$ 1.220,76 (Rio de Janeiro). O Amazonas, que também adota jornada de 20 horas, paga R$ 881,95. Já o Rio Grande do Norte remunera seus profissionais com R$ 768,57, por 30 horas trabalhadas.
Os dados divulgados pelo Consed, Conselho Nacional de "Secretários" de Educação, dão a tônica de como a educação é tratada no país. Enquanto um funcionário concursado da Justiça Federal de nível médio ganha em torno de R$ 3.990,00, por exemplo, um professor com Mestrado na rede estadual de ensino do Maranhão ganha a metade disso.
Enquanto um analista do Ministério Público Federal, com formação de nível superior em qualquer área recebe em torno de R$ 6.650,00, um educador com Doutorado no Maranhão recebe menos da metade.
Como chegamos a estas constatações? É fácil! Basta fazer os cálculos das porcentagens em cima da magistral remuneração que recebem os professores maranhenses (R$ 1.631,69). Mas não esqueçam que estamos falando de valores brutos, aqueles que não levam em consideração os descontos de toda sorte a que estão submetidos os trabalhadores deste país.
Um Mestre no Maranhão, por exemplo, recebe R$ 1.958,03, bem próximo da metade de um servidor de nível médio da Justiça Federal (R$ 3.990,00). Por sua vez, um Doutor deve receber seus R$ 2.039,61, bem menos da metade do que recebe um analista de nível superior do MPU (R$ 6.650,00). Imagina, então, se compararmos a remuneração dos professores com as cifras exorbitantes dos parlamentares e dos funcionários das casas legislativas estaduais e federais?
Mas ainda assim, devemos comemorar. Afinal, esta é uma das poucas notícias que elevam a auto-estima do povo maranhense, ainda mais quando contrastada com a situação precária das escolas estaduais, sem materiais e livros didáticos, com escassas bibliotecas, com carteiras quebradas ou em desuso, e sem computadores, um luxo que apenas algumas poucas desfrutam neste estágio de caos em que se encontra a educação no Maranhão.
Se no Estado a remuneração é uma das melhores do Brasil, o que dizer dos professores da rede estadual de ensino de Goiás, do Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro, que padecem de um mal ainda maior?
Será esse o motivo em não se conceder o reajuste salarial de 10% para a categoria previsto no acordo entre sindicato e governo ainda em 2010? Uma forma de não se elevar demais os gastos em educação por aqui, já que estamos acima do piso nacional?
Será que é por isso que o governo não sinaliza para um acordo definitivo, haja visto que publicações como os dados supracitados - de um conselho formado por "secretários" de educação que, como bem sabemos, estão mais preocupados com os ganhos políticos e financeiros dos cargos que ocupam do que com melhorias na pasta que representam - concorrem paralelamente ao movimento grevista como forma de desqualificá-lo e torná-lo ilegítimo e sem o respaldo dos demais setores da sociedade maranhense?
Será que é por isso que se paga mais aos funcionários da justiça, dos ministérios públicos e das casas parlamentares, sem a exigência de maiores qualificações, do que aos professores desse Brasil varonil, sabedores de que quanto maior o conhecimento maior o esclarecimento?
Será que, finalmente, é por isso que se mantém bem nutridos aqueles que detêm o poder de julgar e fiscalizar o cumprimento das leis, em detrimento daqueles que possuem o poder de oferecer ao povo o olhar sobre as contradições e incongruências das mesmas?
Neste descalabro que é a educação do Maranhão, prezados leitores, onde os próprios professores reivindicam melhorias em questões que estão para além das funções que lhes são pertinentes e que deveriam ser tratadas como prioridades pelo governo, a coleção de vergonhas do Estado só aumenta.
A segunda pior educação do país é uma das que possuem melhor remuneração de professores da rede estadual de ensino, que não chega nem perto dos salários pagos pelo Legislativo e Judiciário. Uma coisa é certa: povo que não é instruído é facilmente iludido. Quem são os palhaços da vez?
Fonte: Blog do Hugo Freitas
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