Ex-candidato ao governo do Estado na eleição em que a oposição se uniu no segundo turno e impôs fragorosa derrota à candidata da oligarquia Sarney, o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Edson Vidigal, mantém viva a chama da unidade.
Em sua avaliação é possível juntar novamente todas as forças para recuperar o poder tomado na marra num golpe judiciário armado no Tribunal Superior Eleitoral.
Para Vidigal, chegou na hora da oposição entender que quanto mais se divide mais fortalece o inimigo comum. Segundo o ex-ministro do STJ, a oposição precisa ter menos estrategistas e passar a ouvir mais o povo. Leia abaixo a íntegra da entrevista concedida ao jornalista Jorge Vieira
P - Como o senhor avalia a atual conjuntura estadual? Ainda é possível juntar a oposição após o fiasco de 2010?
R – Ora, se antes, em 2010, quando ainda tínhamos um líder inconteste, legitimado pela força das urnas, no caso o Jackson, vimos o que vimos, imagine-se agora, em 2012, ou amanhã, em 2014, com essa euforia antecipada espargindo no ar algum cheiro de vitória.
Sejamos humildes, tenhamos confiança na capacidade de trabalho do outro, paciência para ouvir a todos, um por um, prudência para definir os momentos exatos da ação, enfim, o que está aí para ser feito não é trabalho para nenhum ser humano que sozinho se ache o competente, se julgue o cara, assim, assim, com Deus.
Eu, pessoalmente, vou continuar labutando por essa unidade, que eu vejo possível, sim. O tempo tem ajudado muito.
P - Em sua avaliação, a sucessão de 2014 passa prioritariamente por 2012?
R – Sim. As eleições municipais de 2012 nos impõem a tarefa da reorganização das bases partidárias na Capital e no Interior do Estado. Todos os partidos de Oposição se voltam agora no reencontro das possibilidades de alianças e de coligações. O que resultar disso, após as eleições de 2012, será decisivo para a organização da vitória em 2014.
P – O senhor migrou do PSDB para o PDT dentro do prazo determinado para quem deseja disputar mandato em 2012. O que lhe moveu a mudar de legenda em pleno período especulativo?
R – Quando terminamos a campanha de 2010, eu já estava em união estável, digamos assim, com a militância e principais dirigentes do PDT no Estado. Fora do PSDB, eu queria ficar um bom tempo solteiro, sem partido, mas em política as coisas não são sempre como a gente quer.
Foi quando chegou o convite para eu ir ao Congresso Nacional do PDT, em Brasília. Em lá chegando fui muito festejado, um grupo queria que eu me filiasse ali mesmo para ser o candidato a Prefeito de São Luis. O Ministro Lupi, Presidente nacional, reforçou o convite.
Eu disse calma gente, isso tem que ser conversado com o Jackson. Eu achava que o Jackson escaparia logo e então essa minha ida para o PDT e as razões estratégicas teriam que ser combinadas com ele, que ainda estava internado no Hospital Einstein, em São Paulo. Não deu tempo.
Depois, fui novamente procurado e concordei em ir para o PDT, mas só bem depois, não condicionando a minha ida a candidatura nenhuma em 2012. Nas eleições de 2014, estando eu com boa saúde, como agora, poderiam contar comigo.
Não aconteceu como eu queria. Fui solicitado a ingressar no PDT o quanto antes. E agora, estamos aí...
P – Quando será que a oposição maranhense vai entender que quanto mais se divide, mais fortalece o inimigo comum?
R – Quando tiver menos estrategistas e passar a ouvir mais o Povo, a ter ouvido para as pessoas comuns, sensibilidade mais aguda para os problemas das cidades, menos discurso e mais ação.
Muita gente sonha em ser isso, em ser aquilo, mas se você puxa uma conversa séria para avaliar o conteúdo das propostas, é picolé de morango. Há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! ... E a história não marcará, quem sabe, nem um. Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. (Fernando Pessoa).
P – O senhor também defende a tese da preservação de Flávio Dino para 2014?
R – Toda vez que ouço falarem sobre essa tese da preservação do Flávio eu me dano a rir porque me isso só me lembra o Silvio Santos naquele quadro a Porta da Esperança.
A produção do programa arrecadava todos os prêmios sonhados pelo cara sorteado, prêmios das lojas do Baú da Felicidade, às vezes até noiva em promessa de casamento. O programa começava cedo, mas a expectativa mesmo era pelo quadro a Porta da Esperança para a qual o sorteado ficava escondido nas coxias ou num camarim sendo preservado.
Lá para as tantas da noite, o Silvio anunciava ao mundo a redescoberta do mundo, do planeta terra, surgia um enorme arco decorado com lâmpadas piscando em forma de estrelas e ao som de trombetas do amém lá despontava ele, impávido, vencedor sem concorrentes, o sortudo, olhando quase de soslaio a plebe rude em derredor, os tambores ruflando, a Elke Maravilha mandando beijinhos, o sortudo do seu olimpo olhando os prêmios, vendo que aquilo tudo era por sua causa, e o Silvio faturando, faturando, vocês querem dinheiro?
Essa tese é muito pobre, não merece o Flávio. Ele tem presente e futuro maior que isso. Quer dizer que vamos congelar a Capital e o resto do Estado, não vamos discutir novas idéias, novos planos, novos projetos, vamos instituir o Maranhão criônico, deixar todo mundo congelado à espera de que o Flávio, em 2014, desponte fabuloso na Porta da Esperança, o Estado feito um grande auditório?
Ora, se ele tem cacife eleitoral e idéias lúcidas, viáveis, para os problemas de São Luis, então que aceite disputar as eleições para Prefeito com os candidatos de todos os partidos, incluindo os das Oposições.
O primeiro turno das eleições no Brasil já funciona hoje como eleições primárias, aquelas que, filtrando, restringem, no final, a decisão entre os dois melhores. Isso é bom para a democracia. Bom, não. É ótimo.
Ah, o Flávio pode perder e aí ele se desqualifica para 2014. Bobagem. A democracia se faz com eleições no perde ou ganha. Quem disse que o futuro dele se acaba em 2014?
E vem cá. O Governo do Maranhão vai ter que continuar como um trono imperial? O Flávio não é um Pedro II cuja maioridade foi antecipada para que o trono, no tempo próprio, lhe fosse garantido como reserva de poder.
Eu não sei se ele anda sabendo dessas bobagens que circulam por aí com o seu nome. Preservar um líder de massas de uma eleição na qual pode sair derrotado porque ele, em tese, pode vencer a outra eleição subseqüente, isso é pobre e autoritário, pois recusa aos outros atores da contemporaneidade as valorações que, ficando assim, só podem ser atribuídas a ele. Então, o Maranhão está assim, esse deserto de homens que para qualquer cargo eletivo, de Prefeito a Governador, só pode ser o Flávio?
Se não querem respeitar o nosso jovem ex- Juiz Federal que respeitem aqui o jovem ex - Presidente do Conselho da Justiça Federal. Eu.
P – Numa eleição de dois turnos, não seria mais interessante que os partidos lançassem seus candidatos com o compromisso de todos estarem no mesmo palanque no segundo turno?
R – Muito mais interessante. No segundo turno, far-se-ia a adaptação dos Planos de Governo para que, ao final, sendo um só, o candidato o pregasse na campanha e caso eleito o executasse com a participação de todos do novo grupo. Fiz isso com o Jackson estava dando certo. Ninguém faz tudo sozinho.
P – O senhor está chegando agora no PDT, embora tenha dado sua contribuição ao partido aos longos das últimas campanhas eleitorais, em que condição: pré-candidato ou simplesmente militantes?
R – Pré - candidato, não. Simplesmente militante, sim. Mas como diria o doutor Tancredo, ninguém vai ao rubicão para pescar.
(Referencia a Júlio Cesar. Antes de atravessar o rio rubicão soltou a frase – Alea jacta est. A sorte está lançada. Fez a travessia com suas então modestas tropas, enfrentou os adversários e venceu a batalha.)
Então indago eu, o que um homem com tanta experiência na vida pública e com tantas idéias a discutir vai fazer num partido político que tem como objetivo único a conquista do poder através das eleições?
P – Qual o legado que o ex-governador Jackson Lago deixou para a oposição do Maranhão e para a esquerda do país?
R – Dois grandes legados. Primeiro, o PDT, um partido que ele ajudou a fundar com os exilados, os perseguidos pela ditadura militar, querendo com Brizola, Neiva, Julião, Doutel e Darci, resgatar os princípios do trabalhismo de Pasqualini, Getúlio e Jango, dos direitos sociais, dos movimentos sociais, da educação com qualidade, da saúde pública eficaz, da segurança com cidadania, do Estado como instrumento da sociedade a serviço do bem estar coletivo com segurança e desenvolvimento.
O outro legado, o seu Governo com idéias novas, interrompido pelo golpe judiciário. Esse Governo vai ter que ser restabelecido, a partir das urnas, para que os projetos inovadores que já estávamos começando a ver acontecendo possam ser retomados. E outros novos projetos possam ser acrescentados.
O Jackson tinha uma liderança moral sobre essa turma toda aí.da qual Alguns hoje fingem ignorar a coerência da sua luta e a consistência dos seus exemplos.
P – Em sua opinião, a população maranhense vai dar a resposta ao governo de Roseana em 2014?
R – Já deu em outras e agora em 2014 vai novamente dar. Há tempos que eles não vencem eleições no Maranhão. Eles tomam eleições no Maranhão. É diferente e muito desigual.
P – Em sua avaliação, a reciclagem da classe política do Estado já começou ou será um processo lento e demorado?
R – É um processo lento de peneira. Passa pela educação moral nas escolas, pela ética como disciplina obrigatória em todos os cursos das universidades. É preciso acabar com essa cultura de que o vencedor é o que leva vantagem em tudo porque os fins justificam os meios. Valores morais e princípios éticos precisam voltar as casas das famílias, às escolas, aos sindicatos, aos partidos políticos, às agremiações desportivas, à convivência entre grupos sociais.
P – E o futuro do Maranhão? Ainda há tempo de se recuperar o estrago feito pelos mais de 40 anos de desmando da oligarquia Sarney?
R – Não vai ser tarefa que se resolva no programa do Silvio Santos por mais sorte que tenha o sortudo ou por maior e mais piscante que seja a Porta da Esperança. Por mais recheado que esteja o Baú da Felicidade.
Uma depredação de cinco décadas num Estado que quanto mais recursos federais recebe mais decai só avançando nas estatísticas negativas, no qual uma minoria ínfima se mantém potentada, sem uma classe média plena, com uma maioria ampla na pobreza, um sucateamento desses não se conserta numa única gestão de um só Governo. É tarefa para muitos. Por isso é que defendo, a exemplo do que as esquerdas fizeram no Chile, um Pacto de Concertácion. Mas isso aí é conversa para outra ocasião.
Fonte: Blog do Jorge Vieira
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